Todo ser possui ou já possuiu uma mãe. É verdade que mãe é tudo igual, só muda de endereço. Existem as mães superprotetoras, as desligadas, as calmas, as nervosas... Algumas pessoas têm duas mães, outras já não possuem mãe nenhuma... Mãe pode ser a avó, pode ser a tia, pode ser a irmã ou até a vizinha. Mãe é aquela que da amor incondicional, que pensa na sua cria com afeição e a protege com todos os seus instintos.
Me arrisco a dizer que a minha mãe é diferente... Não sei se é diferente de todas as outras, acho que alguém nesse mundo deve ter uma parecida com a minha. Sei que ela é diferente desse esteriótipo de "mamãezinha mimimi".
Minha mãe nunca ouviu nenhuma fofoca minha criticando meus amiguinhos de escola. Para ela, sempre eu era o errado. Minha mãe nunca se meteu nas brigas que eu participei, para ela os meus problemas deveriam ser resolvidos por mim. Minha mãe também nunca foi contra as minhas decisões e nem a favor. Minhas decisões são as minhas decisões, e não as dela. De fato isso pode parecer ruim para uma criança, ou para um adolescente que diz não querer cuidados, mas no fundo, é só disso que ele precisa.
A grande questão é que mãe não da pra mudar. A mulher já cresceu, já se formou como pessoa, já realizou grande parte de seus planos e sonhos e dedica seu tempo para concluir os que ficaram pelo caminho. Logo, eu é que tinha que me acostumar com aquela mãe que aleatoriamente eu escolhi quando ainda era um projeto de ser humano.
Com o tempo, fui vendo outros pontos positivos que a minha mãe tinha - aconselho todas as pessoas que têm problemas com mães a fazerem o mesmo. A sociedade dita todos os padrões que devem ser seguidos por nós, meros mortais. O papel de mãe é apenas mais um perfil traçado por essa tal sociedade conservadora e ignorante. Para eles, mãe deve colocar o seu filho acima de todas as coisas, deve fazer qualquer coisa para proteger a sua cria. Mãe pode matar, mãe pode julgar, pode abençoar, pode gritar... Tudo a favor do seu filhinho. Ora ora, mãe pelo que eu sei bem é um ser humano como todos os outros, sendo assim, ela possui desejos próprios e um filho pode não ser a sua prioridade. Que pecado há nisso?
Não duvido do amor que minha mãe tem por mim, sei que ele é incondicional. Mas nunca fui um bibelô para a minha mãe, fui um filho (o segundo de três deles). Apenas. Hoje estou com meus 20 anos, tenho meus próprios sonhos, sigo a minha vida e as vezes nem lembro da minha mãe. Hoje então eu penso: Que bom que a minha mãe não foi uma mãe como as outras! Que bom que a minha mãe lutou pela sua vida e não pela minha! Que bom, Que bom! Se ela não tivesse feito isso, talvez hoje eu teria um enorme peso na consciência por não retribuir tanto amor de mãe coruja.
Minha mãe me deixou preparado para saber o que é certo e o que é errado, minha mãe me fez enxergar o mundo do jeito que ele realmente é, sem padrões, sem preconceito. Todo o amor que eu devolvo a ela hoje, é mais do que merecido. E não se arrependa das brigas, todo filho briga com a sua mãe, toda mãe briga com o seu filho. Ódio? Sim, ódio também está relacionado com as mães, mãe não é a virgem maria, não é santa e possui defeitos. Defeitos esses que devemos sim, por obrigação odiar!
Odeio a minha mãe, odeio como ela é obcecada por limpeza, odeio o nervosismo diário dela, odeio quando ela senta para ver novela e não escuta os meus problemas, odeio todos os namorados que ela arruma, odeio quando ela resolve ficar moderninha e corta o cabelo de um jeito não convencional, odeio quando ela não se preocupa com a comida e todos nós morremos de fome... Enfim, odeio minha mãe pela metade. À outra metade eu reservo o amor, amo como ela se preocupa comigo quando estou doente, amo quando ela se lembra de momentos importantes que passamos juntos, amo quando ela diz "eu te amo" sem motivo, amo me sentir protegido na casa dela, amo quando ela faz loucuras por mim ou pelos meus irmãos (como comprar um presente muito caro ou aparecer com uma cachorra surdinha em casa...).
Amo e odeio a minha mãe... Aquele ser humano como todos os outros... Sem beatificação, sem auréola. E sobre o sapato furado... Eu acabei de descobrir um furo enorme no meu sapato, que até me motivou a escrever esse texto. Todo jovem pensa primeiramente em sua mãe para consertar tal estrago, de fato, também pensei na minha. Mas logo me veio a cabeça como ela é preguiçosa quando o assunto é consertar algo... Fazer o que né? Ela é assim.